quarta-feira, 24 de abril de 2013

Sequência de atividade de leitura e interpretação II

Texto selecionado: Eros e Psique
Autor: Fernando Pessoa (ortônimo)
EROS E PSIQUE
Conta a lenda que dormia
Uma Princesa encantada
A quem só despertaria
Um Infante, que viria
De além do muro da estrada.
Ele tinha que, tentado,
Vencer o mal e o bem,
Antes que, já libertado,
Deixasse o caminho errado
Por o que à Princesa vem.
A Princesa Adormecida,
Se espera, dormindo espera,
Sonha em morte a sua vida,
E orna-lhe a fronte esquecida,
Verde, uma grinalda de hera.
Longe o Infante, esforçado,
Sem saber que intuito tem,
Rompe o caminho fadado,
Ele dela é ignorado,
Ela para ele é ninguém.
Mas cada um cumpre o Destino
Ela dormindo encantada,
Ele buscando-a sem tino
Pelo processo divino
Que faz existir a estrada.
E, se bem que seja obscuro
Tudo pela estrada fora,
E falso, ele vem seguro,
E vencendo estrada e muro,
Chega onde em sono ela mora,
E, inda tonto do que houvera,
À cabeça, em maresia,
Ergue a mão, e encontra hera,
E vê que ele mesmo era
A Princesa que dormia.

Antes da leitura: Chamar a atenção para o título do poema: etimologicamente Eros está na raiz das palavras: erótico, erotismo, eroticidade (Eros é o deus do Amor, na mitologia) e Psique está na raiz da palavra psicologia (Psique significa Alma). A partir daí, questionar os possíveis significados do título Eros e Psique. O que esse título pode sugerir?

Pode-se também ler o Mito de Eros e Psique, lenda mitológica em que se narra a história de amor entre Eros e Psique.
Se o texto for utilizado na 3ª série do Ensino Médio, aprofundar o estudo sobre o poeta Fernando Pessoa e o processo de heteronímia. Esse poema foi escrito por Fernando Pessoa ortônimo, faz parte dos poemas ocultistas, isto é, poemas que trazem temas de exploração do subconsciente, de descoberta do estar no mundo. Este texto é um poema narrativo, portanto ao fazer a leitura, solicitar que os alunos acompanhem a narratividade e construam imagens e idéias sobre o texto que está sendo lido.


Durante a leitura:

Ler com entonação própria da leitura poética, contagiando os alunos, dando ênfase aos lances importantes, conferindo diferentes matizes de emoção a cada trecho; propiciando um clima de deslumbramento que só um texto literário é capaz de despertar. Sugestão: No youtube há vários links do poema Eros e Psique, com declamação de Maria Bethânia.
Depois da leitura:
Quanto à estrutura do poema:
Sete estrofes com cinco versos cada;
Versos heptassílabos (redondilha maior)
Esquema de rimas misturadas: ABAAB, o 1º verso rima com o 3º e o 4º; o 2º com o 5º.

Quanto à construção de sentidos:

Questionar os alunos o que conseguem perceber na primeira estrofe? Espera-se que percebam a remissão ao conto de fadas A Bela Adormecida; Levantar com eles possíveis dúvidas quanto a vocabulário. Se existirem, explicar pelo contexto e pelo uso de dicionário;
Chamar a atenção para os versos da terceira estrofe: "E orna-lhe a fronte esquecida/Verde, uma grinalda de hera." Colocá-los na ordem direta para melhor entendimento: Uma grinalda verde de hera, esquecida, orna-lhe a fronte. Instigar a interpretação desses versos. A Princesa tinha o rosto encoberto por uma grinalda de hera (planta). Por que será? Por que a opção pela cor verde (falta de amadurecimento)? Atentar para as respostas dos alunos.
Na quinta estrofe, o "Infante esforçado" e a Princesa cumprem seu Destino (atentar para a grafia com letra maiúscula da palavra Destino, eles estavam pré-destinados?); Na última estrofe, acontece a descoberta:"ele mesmo era a Princesa que dormia", isto é, para que o ser humano seja completo, é preciso que haja a união do Amor (Eros) e da Alma (Psique).
Essa descoberta não é fácil. Essa afirmativa se justifica pelos versos: "E, indo tonto do que houvera/À cabeça, em maresia,/ Significa que a viagem do ser humano ao seu inconsciente é, por vezes, difícil, porém, necessária. Essas são algumas possíveis leituras (interpretações) do poema. Deve-se levar em consideração as explanações dos alunos, orientando-os para realizar a interpretação dentro das possibilidades de leitura da obra.

Martha Wassif Salloume Garcia
Professora de Língua Portuguesa

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